Em meio às várias igrejas evangélicas localizadas no Conic – quadra central deBrasília que, em outros tempos, era ponto central da prostituição na capital federal –, uma congregação se diferencia. Formada por gays e lésbicas, a Comunidade Atos realiza cultos três vezes por semana para quem deseja praticar a fé em Deus sem sofrer preconceitos por causa da orientação sexual.
Em média, 80 pessoas participam dos cultos. De acordo com a pastora Márcia Dias, cerca de trezentas pessoas fazem parte da congregação, e quase 100% são gays, lésbicas, bissexuais ou transexuais – incluindo ela própria. "De cabeça, lembro de três heterossexuais que frequentam", diz.
Fundada em dezembro de 2005, a congregação começou com um grupo de cinco pessoas que não eram aceitas em outras igrejas. Com o tempo, cresceu e ganhou o status de igreja. Dos cinco fundadores, dois continuam.
A Athos prega a teologia inclusiva, ou seja, não condena a homossexualidade. Toda a argumentação para aceitação vem da própria Bíblia. "Há muitos erros por parte de outras igrejas. Sodoma e Gomorra, por exemplo, não era formada só por gays. Ou seja, não é a homossexualidade que foi punida por Deus", afirma a pastora.
Márcia também aponta que as regras da Athos são parecidas com as de outras igrejas evangélicas: "Não permitimos a promiscuidade. O sexo pode ocorrer entre pessoas que já mantém uma relação estável. Não estamos exigindo registro em cartório, até porque a Bíblia não fala disso, mas sim que as pessoas estejam com um parceiro".
Cerca de 90% dos fiéis são do sexo masculino. O designer gráfico Fábio Carvalho (que cuida das redes sociais da Atos), diz que isso acontece por que é mais fácil para mulheres disfarçarem a homossexualidade. "Algumas mulheres são lésbicas, frequentam igrejas e ninguém percebe. Com homens, é diferente", aponta.
A grande maioria dos frequentadores já foi expulsa de outras igrejas por causa da orientação sexual. O secretário executivo Marcelo Araújo, 29, é um exemplo. "Até os 16 anos, eu frequentava uma igreja e não havia me assumido gay. Um dia fiquei com um menino e a história chegou ao pastor. Ele me chamou e me expulsou. Não adiantou nem argumentar".